INÁCIO DE BARROS LEITE
1879
Nasceu em Penedo, Alagoas, Brasil em data ignorada até pelo seus próprios descendentes.
Foi professor na sua terra natal, e não obstante ser poeta de raro talento, apreciável cultura e apaixonada êmulo por Bocage, escrevia versos eróticos, em boa língua, mas só para os seus íntimos.
Faleceu em 1879, parece que na mesma cidade onde nasceu.
É nome, hoje, completamente desconhecido em Alagoas.
AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeir o: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernado. Bibl. Antonio Miranda
O PEBA
Ó gratas plagas do fecundo Peba,
Tão belas, tão felizes, que na mente
Do grande rei dos magos se afigura
A mansão deleitante, fruto e pasmo
Do engenho oriental! Mundo encantado!
Da Flora e de Pomona abrigo eterno.
Imensos bosques de verdura e sombra,
De brisas perfumadas, sussurrantes,
Por onde, inda inocente e livre ainda
Dos cuidados que à vida me nasceram,
Os gozos desfrutei da tenra idade!
Aqui, por toda parte, os cajuzeiros
De folhas verde-loiras, as piassavas
De palmas gigantesca e flexíveis,
Cheiroso camboím, murta vermelha,
O doce gravatá, a tatajuba,
A almocega aromática, a pirunga,
O bom bacurí, giganter airoso,
Coqueiros indianos, e mil outros
Formosos vegetais ledos prosperam;
E uns depois dos outros produzindo
Agora a flor cheirosa, agora o fruto,
Um constante himeneu em todo o ano,
De outono e primavera vão mostrando.
Relvosas várzeas se espreguiçam longas,
Clareiras tortuosas, que mil formas
Vão dando àqueles matos prazenteiros,
Paisagens naturais, ora risonhas,
De vozes melancólicas, mas gratas;
Um painel variado aonde sempre
Os olhos vão gozando um quadro novo!
Limites deste éden, as fulvas dunas
Em altas cordilheiras se dilatam,
E as praias do oceano vão bordando.
O remanso da paz fruindo à farte,
Mais livre, mais sublime, o pensamento
Distante da terra, ao céu remonta;
Nas asas do saber percorre o espaço,
E as obras do Senhor contempla e estuda;
Da vasta região numera os mundos;
Seguindo a cada um, descreve entanto
De compasso na mão a marcha ousada!
Mil vezes mais feliz que o sábio, o vate,
Tal qual a loira abelha, que das flores
O suco precioso extrai do cálice,
Torrentes de harmonias esgota, aprende
Da rola que na sombra da espessura
Arrulha maviosa, da fontinha
Que corre, sussurrando, o prado ameno;
Da brisa folgazã que doida brinca
Do copado arvoredo nas folhagens.
Aos sons da natureza os sons da lira,
Inspirado, combina; une seu canto
Ao canto universal, e qual um anjo
Ao Pai da criação hinos entoa.
Aquele a quem da sorte o peso oprime,
O triste que enfermou bem dentro d´alma
E cujos lábios não floreiam risos;
Que tem seu peito de esperanças ermo,
Só nestas plagas paradeiro encontra
Às duras mágoas que viver lhe ralam,
O amante desditoso, o que inda adora,
Apesar de traído, a bela ingrata;
Aquele a quem por ser correspondido
Da mesma que a cativa os pais privaram;
O pintor de paisagens; o que foge
Dos tropeços do mundo; o que procura
Nas cenas naturais prazeres simples,
Suas emoções ou paz tranquila;
Aqui e só aqui, deitado à sombra
Da verde romaria, ou nestes bosques
Sozinho passeando, ouvindo apenas
Das aves o cantar doce, mimosos,
Do cajueiro em flor sorvendo aromas,
co´as brisas conversando; ou já no cimo
Da mais alta das dunas, abrangendo
Com a vista alçada e solta um panorama
Vastíssimo, formoso, e belo, e vário;
Aqui e só aqui seu mundo encontra,
Aqui e só aqui desterra d´alma
Cruéis apreensões, imagens torvas
Que a mente do infeliz povoam sempre,
E dos jardins da vida desviando-a,
Só broncas penedias se ermas brenhas,
Desertos escalvados lhe apresentam.
Terra de minha infância, oh! no teu seio
Recebes-me outra vez... quero em teus bosques,
Como outrora vagar... que os meus dias,
O resto dos meus dias que enlanguecem,
Findar no teu regaço ameno e caro!
Concede-me, meu Deus, que eu veja ainda
As várzeas tortuosas, as colinas
De areia que o oceano vai bordando,
Os bastos matagais, por onde outrora,
Na quadra juvenil, brinquei contente!
Que os dia vá findar serenos, calmos,
Do cajueiro em flor sorvendo aromas,
Deitar-me à sombra dos coqueiros altos,
Com as brisas conversar e ouvir apenas
Das aves o cantar doce e mimoso.
Com as fontes discorrer sem segredinhos...
Terra de minha infância, eu te pertenço;
Recebe-me outra vez, e para sempre
Repousem no teu seio as minhas cinzas!
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Página publicada em junho de 2021
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